sábado, 14 de fevereiro de 2015

[verberam os ramos antes em sossego aquém das trajetórias sibilantes]


verberam os ramos antes em sossego aquém das trajetórias sibilantes

o vento
uiva como o sacrificado
ajoelhado

pelas vertentes sinuosas
agrestes

de nada serve esconderes os passos em volta
inquietos
por essa maré errante que se esvai
busca mais vazio
mais longe

mais além.

As inquietudes invadem então as horas
numa antecâmara estranha
ritmada pelo desassossego rápido feroz
e pouco interessante


do acordar.


ali
o poema é o imortal

ser

[velar-te-ei desabitado
desobrigado]

então.



(Ricardo Pocinho – O Transversal)



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

[poder-te-ia falar num céu sem estrelas]

grande baleia branca Migaloo


poder-te-ia falar num céu sem estrelas
destelhado
ou da hora de Prima que antecede o começo
vagabundo

mas perdi-me neste mundo que nunca foi meu
[a vida]
sórdido

veleiro que se afasta ao som do vento
sem tripulação.

há sempre o outro lado
a estrada sem curvas encruzilhadas
a maré parada

um fio deslumbrado carregado de espantos
[nunca as descobertas]
que esconde a raiz a água.

findo o mar perfeito
enrola-se a brisa

e nenhum sacrifício resta
apenas a plenitude deste tempo gasto.


o gesto
as mãos
o halo da maresia infinda

a distância

[um luar que pousa em nossas mãos].


(Ricardo Pocinho - O Transversal)