sábado, 10 de janeiro de 2015

[no meio dos caminhos sempre existirão águas amotinadas]


no meio dos caminhos sempre existirão águas amotinadas
as recordações que o tempo não esquecerá
as saudades
enquanto as pessoas se sucedem frente aos nossos olhos já secos

a viagem que nunca se repete.

No meio do poema havia um grão de areia
e uma semente
ambos dormindo longe
[muito longe daqui]

deslumbramentos roubados
ou sonhos
ou a cegueira inicial na escuridão
pela noite sem cintilantes e cometas

para onde vais?

Apenas o desejo da fusão completa
una

aumentando plena a cada suspiro mais forte
como sangue
que a trote calca o areal virgem continuamente

tateio o teu corpo alma
palmo a palmo
sem tempestades. Tateias-me sem as noites e as manhãs.

Do grão em areia nasceu a praia virada a sul
da semente nasceu a orquídea e uma sombra

perto do horizonte
e os dias não se estilhaçaram.

Continuo sem saber explicar-te
o mar que voa
a ave que sonha
o azul e o branco

que não se repetem

[jamais].



(Ricardo Pocinho - O Transversal)

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