terça-feira, 6 de janeiro de 2015

há sons que trespassam a noite [cortam-na pela metade]


há sons que trespassam a noite [cortam-na pela metade]
como sigas afiadas a pele

e gaivotas que gritam a norte em pleno Tejo nos dias tristes

planando sem o bater das asas
sem o descanso.

De nada serve o sufoco do caminhar
distante
incrédulo

calcando chuva a cada passo

nada trazem as canseiras que esgotam
atrofiam
ou aqueles horizontes insuperáveis
crepúsculos passageiros
desejos
perversos
que atravessam paragens certas.

Definha o sexo antes exuberante
empinado

breve o tempo que se desejava eterno
imparável
assim fossem os dias
as noites
o amar
porque não as fugas?

Tudo regressa.

Há gaivotas que gritam trespassando os silêncios das noites que sobraram dos dias tristes


[e há um rio que o mar engole].


(Ricardo Pocinho - O Transversal)


2 comentários:

  1. Ricardo, teus versos sao especiais...e sempre uma alegria imensa ler-te! Obrigada por todo esse encanto! Beijos...

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    1. que te posso dizer Poetisa... apenas sei que há sempre um rio que o mar engole. Obrigado pelo teu carinho e leitura. Beijos

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