quarta-feira, 17 de julho de 2013

Das palavras perdidas

Foto de Carlos Cruz


Das palavras perdidas adornadas em sussurros,
pintam-se algumas telas suspensas num quarto deserto,
despovoados os barulhos ali fora, tão perto,
absurdos os ecos julgados revelados de tão omissos, tão perto,

não encontrarei um universo, isso não é para mim,
nem ctónico que seja, nem revelado pelas vicissitudes dos impossíveis medos,
saberei dos gritos, dos gestos que me revelaste
anestesiando o mar em sobressalto.

Poder-te-ia imaginar, apenas
numa pausa do olhar, perene o olhar,

e a mesma voz outrora débil, clamaria em trovão pelo ondear
neste entardecer deserto.

E se não houverem mais palavras?

Ficará esta hemorragia que nos persegue mar adentro, sei-o
pelo desfalecer das velas enfunadas mirrando a cada ventania,

tão símiles aos grãos de areia secos pelo sol a pique.

Avisa-me da chegada dos nenúfares perfeitos quando a matina te clarear os sonhos,


clareia-me o hoje.









Nota:

Ctónico - debaixo da terra, palavra associada a mitos, monstro. As fúrias Hécates, Medusa, habitavam o mundo inferior associadas ao inferno


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