segunda-feira, 18 de março de 2013

,sem sementes de papoulas nas mãos



,nascem pelo poente as cerejeiras despidas,
rejuvenesça-se a cor,
e o vento sopra de longe, escapa-se assim,

por entre os dedos sem vestígios.

(I)

,veste-te nesses gestos tão repetidos,
afinal, chove breve,
por um instante pensei nos sonhos despedidos,

partidos, rasgados pelas noites escuras,
sem sementes de papoulas nas mãos,
escuridões intempestivas,

haja boca que resista ao trago rápido do vinho.

,algumas vezes deixo-me morrer sem os cheiros
conhecidos pelas tardes que antecedem o crepúsculo,
por vezes sei das ausências surdas, símiles
aos pássaros em bandos escurecendo céus,

enquanto trompetas atordoam ecos que se revoltam,
entrincheirando palavras há tanto hibernadas, cacofônicas.

(II)

,sabes, quisera um dia salvações inúteis,
pela estrada que começou lá atrás, sem curvas,
vontades, um fim,

e levitei-te, e inventei-te,
quisera apenas caminhar os teus caminhos,

olha as margens, por onde a rouquidão repete os triviais
passos em volta.

,volto-me, sim.

(III)

,[regresso-me, rasga-me em silêncio].






Textos de Francisco Duarte

1 comentário:

  1. rasgar-se é sempre em silêncio, interior
    já os regressos, são quase sempre dolorosos embora necessários... não serei a pessoa mais indicada para ajuizar ... talvez o sinta apenas

    Beijos e levo :))

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