quinta-feira, 18 de outubro de 2012

,todos pensamentos obnóxios



Pensamentos abnóxios pululam,
sem conteúdo, sem visões das
vielas sombrias entardecidas,
adormecidas de adamastores.
Refletem-se alguns desgostos longínquos,
algures,
que o tempo enterrou por entre gerânios,
restou o perfume.

Encruzilhada, terra sem caminho,
afrodísia incapaz de gerar,
revestida de penhascos que ferem a alma,
para sempre.

Pensamento infértil, infame,
inflamado nas vãs distâncias,

que se quedaram quais cascatas um dia cuspidas,
que brotem nenúfares.

Escafeder-me-ei como se de uma cenreira se tratasse,
acordar-me-ei desta vã apatia,

por estes todos pensamentos obnóxios
que tantas as vezes me cercam.

Que restem sons em silêncio.


(Textos de F.Duarte)

,o nada o invade



Fede o corpo moribundo,
mãos que um dia quiseram plantar cerejeiras
por entre as núvens de primavera,
mãos que tapam buracos ensaguentados, seguram vísceras,
pés descalços que um dia correram areais desertos,
despojados do cansaço, agora, apenas despojados.

- Segura-me a cabeça”,
enquanto os olhos se fecham,
e mesmo que o grito se eternize, deixa o cigarro acesso
queimar os lábios insensíveis.
Que o fumo se transforme neste nevoeiro tão perto.

Fede o corpo moribundo
que um dia amou;
das noites levará luares,
das tardes levará o sol de inverno,
das manhãs levará o sorriso,

o nada o invade,
a escuridão que o contorna, completa-o.


Textos de F.Duarte


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

[… as imagens despem-se finalmente]

Paul Cézanne


as imagens despem-se finalmente, quão exaustas
das palavras sem prazo de validade; 
“ - Eternas...”, repetirás,

poderão resistir ainda algumas sílfides,
como as ondas que saltam a muralha que as quer dominar,
quais cavalos loucos sem destino que à mente sobrevivem;

“ - Súplicas mores que destinos...”, dir-te-ei.

Algures ouço algumas estrelas destapando o cendrado  anoitecer,
e nas brisas que encerram os ciclos em círculos,

segrego-me, ruem esconderijos por ti descobertos.

Sentar-me-ei apenas esperando que o breve santelmo
revele a bonança nas cores do arco-íris,

resistir-me-ei somente, 
finalmente,
desassossegada[mente]. 


terça-feira, 9 de outubro de 2012

[ … e tantas são as auroras por onde se espraia o sol



e tantas são as auroras por onde se espraia o sol,
quão perto o sorriso teu acorda orquídeas adormecidas.

Mira aqueles pássaros que migram noutros céus,
em viagens sem regressos,
olvidam-se as dores que escurecem tardes.
Fala-me do amar, fala-me desta morfina que resiste,
que esconde sílabas, silêncios, distâncias,
afasta-a de mim.

[… e quando o mar me envolve, resto-me como náufrago,
qual perene é o murmúrio, mor o sussurro relembrado …]

E no ocaso que se aproxima neste páramo meu,
por onde me morro,
recolhe-me,

apenas.










- Na verdade vos digo, os pássaros que morrem caem no céu e as cinzas de Maria Callas vogam pelo mar Egeu.” do ciclo uma sílfide adormeceu no leito de uma orquídea branca.