quinta-feira, 5 de abril de 2012

[que reste apenas o bater de asas dos pássaros que regressam]

Brasil— Vista aérea do Rio Amazonas, perto de Manaus, 1993.
                         © Alex Webb / Magnum Photos


Do que já não te ouço pela noite infinda,

reavivam-se as cores que relembro do caleidoscópio,
enquanto anjos e arcanjos disputam o bater de asas
com os pássaros que regressaram pela primavera;

- Um dia encontrarás o teu paraiso!”,
por entre os caminhos de pedra banhados pelo sol
que ataganta a pele,
por entre os trópicos onde o sal do mar
encarquilha o corpo,
[escrevi algures],
como se algum inferno viajasse pelas tatuagens
esculpidas na pele;
- Sombras que ficaram!” dirias.

Sim, porque só o aroma a canela que se cheirava vindo de longe
não nos chegava, queriamos os cheiros das tulipas, do rosmaninho,
tocar a linha que o horizonte tapava com nevoeiros cerrados,
assim eram os equilibrios dos bojadores longinquos de ti ou de mim,
queriamos, oh... desejávamos.

Sinto a tua falta, sinto a falta
dos bojadores que tracejavam o luar refletido
como se tudo fosse acontecer, pudesse acontecer
um dia ou uma noite,

sinto falta do que já não te ouço pela noite infinda.

[Que implodam os paraísos, os infernos, os trópicos inventados pelas primaveras em repetidos equinócios,
canso-me, que implodam os anjos e os arcanjos também,
que reste apenas o bater de asas dos pássaros que regressam].


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