quarta-feira, 7 de março de 2012

[sussurros que os aparos riscavam]

Luzes da aurora austral sobre o Território Antártico Australiano, 2007
         Foto: Frederique Olivier AFP Photo

Planto uma flor de lótus
por entre linhas sem fim,
e na superficie das lagoas paradas
pelo tempo, renascem os caminhos
que um dia quisemos,
só nossos.

Da suave brisa por onde me naveguei,
segui as núvens mais distantes
querendo ver as constelações,
aquelas que os nossos dedos
tocavam, nas noites de primavera,
só nossas.

Esqueço-me dos mares percorridos,
lembro-me das palavras que
se juntavam num mapa de latitudes
e de longitudes,
sussurros que os aparos riscavam,
como os sonhos que riscaram
esta pele gasta, tatuando-a,
por vezes em dor,
por vezes em saudade.

E repetia-se mar, e repetiam-se
ondulações, jamais tempestades.

Da flor de lotus nasceram outras,
imagino agora, da lagoa parada
onde um dia banhámos os corpos,
ainda hoje se devem refletir
as constelações,
que eu jamais encontrei
pelos caminhos por onde me naveguei,
imaginei-te agora,

hoje, a madrugada está distante,
hoje, o céu continua escuro,
repete-se o mar,
ouço o som suave dos violinos,
hoje, repetem-se as ondulações.



Sem comentários:

Enviar um comentário