sexta-feira, 16 de março de 2012

[estranho]

Paulo Ricca Lagoa Funda, Açores, Portugal

Sempre quis o silêncio, aquele onde os sons se suspendem, onde, nem o respirar liberta sussurro, por um dia só que seja,

e lá, nas fendas que se querem
em lavas,
entram ilusões que revejo,

palavras em imagens,
isso, eu sei.

Agarro então o ar
que as orquideas libertam, inspiro-o,
sinto a terra raiz de que me libertei,
regresso, rapidamente,

ao pó,
e as minhas mãos colhem searas outrora ondeadas pela brisa da primavera que por ali ficou estancada,

e o tempo passou,
isso, eu já sabia,

renascem as visões repetidas, gastas
partidas sem piedade, porquê a piedade que se parte como cristal ao amanhecer? [ou pelo canto de uma prima-dona inspirada que ouvia nos domingos adolescentes...]. Sim, partidas.

E do amar que o escrito procura, resta o mar no suave ondear das vagas que se quebram em areais cobertos por girassóis ou por algas ou por corais ou...,

estranho,

como se tudo fosse estranho, sem cor,
abanam-se os sorrisos,
abrem-se as rotas naqueles hemisférios que se depenam como garças no além mar em silêncio.

Quanto ao silêncio que me inunda, por este dia só, que seja, regurjito alguns versos,
apenas alguns versos no silêncio do papel.

Isso, desde sempre o soube, desde o sempre.



Como o cavalo louco, sem freio, acendo o cigarro sem filtro que se cola aos meus lábios, teus, estranho.




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