terça-feira, 31 de janeiro de 2012

[“-O mar o levou”]


Museum of Fine Arts, Boston. Gift of Jessie H. Wilkinson—Jessie H. Wilkinson Fund/Photograph © Museum of Fine Arts, Boston


Tantas as tatuagens na carne
que o corpo pintado, a negro,
se escondia sob a capa
dos traços,

como o rosário do peregrino
gasto pelas benevolências
invocadas, aplacando iras
desconhecidas,
flutuava o corpo pirata do
navegante nas águas quentes
de uma corrente salgada.

Quis a morte solitária, jazendo
no mar que o cobre como um
manto de linho azul,
corpo que segue as rotas
das marés,
e das conquistas e feitos,
abrigam-se no fundo do mar,
arcas, especiarias, cartas,
até tridentes ferrugentos.

Chora algures uma prostituta,
entre brindes carregados de
vinho, “-O mar o levou”,
cantará em sussurros na noite
escura de uma viela escondida,
amaldiçoando o sonho,
amaldiçoando a paixão.

Das viagens que continuarão,
sem destino, com destinos,
sem remorso, com remorsos,
[ou saudades, com saudades...]
ilhas desertas brilharão
no deserto do bravio mar,
quais oásis,

e das manhãs, visões sem fim,
reflexos solitários das noites
intermináveis de inverno,
repetir-se-ão os sons surdos
das aves migratórias,
repetir-se-ão as danças das baleias.

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