sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

[Nenhuma visão apocaliptica nascia]



e se o inferno fosse um sitio
frio e gelado
nas profundezas de cada um?

e se o inferno existisse mesmo,
e se algumas vidas fossem os infernos?

Nenhuma visão apocaliptica nascia,
nem mesmo no horizonte da maré,
[o mastro rangendo, como que anunciando quebrar aos sopros fortes do vento de norte, sustinha uma vela enfunada],
bajulavam-se deuses sem fim,
alguns carnais, outros invenções,
do esforço se falava,
queriam os homens alguma paz,
como se depois da morte,
uma luz revelasse sossego,
perdão da morte, sono talvez.

De tantas guerras percorridas,
de tantos amores perdidos,
de tantas ilusões desfeitas,
juntavam-se heróicas cicatrizes,
[que o corpo guardava, quais medalhas, condecorações de sangue sugado a outros, aos mais fracos, alguns indefesos, e],
do temor pela tempestade,
cantavam escondidos nas núvens
invisiveis anjos e arcanjos nús,

a venda da justiça caíra.

Nas cartas de amor lidas, relidas,
ficavam os odores da canela, das
flores silvestres,
[restava a lembrança da noite onde o suor dos corpos impregnava a cama de cetim carmesim, labaredas sem faces visiveis],
sem faces visiveis.

Renasciam as piedades,as preces,
renascia o medo do além,
teme-se o além-mar.


[ dos sofrimentos deixados para trás em outros corpos que vagueiam sem rumo, se esqueçem os homens, imploram piedade com um sorriso.]

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